Pai
Ontem, dia 1 de Fevereiro de 2015, o último grão de areia passou pelo orifício da ampulheta da vida e com ele vinha uma mensagem curta e definitiva.
FIM
E o 'Zé Tintas' faleceu.
- Oh coitado. Era tão boa pessoa - dirão uns -.
- Sempre sorridente e amigo de ajudar - dirão outros -.
- Um bom pai e um bom chefe de família - dirão alguns-.
Talvez por respeito, talvez para expiar culpa própria, manchas, se as houver, ficarão caladas pelo silêncio de cada um.
Do que não foi dito e do que não foi feito, fica o amargo do adiamento " ad perpetuam".
O sentimento comum de todos os que prestam a última homenagem a quem parte, é que o faça em paz.
É com um grito que vimos ao mundo.
E é neste preciso momento que a vida pela primeira vez 'baralha-parte-e dá'. Irá fazê-lo vezes sem conta durante a nossa existência.
E a ti pai, do melhor naipe calhou-te a melhor carta.
A 'dama de ouro'.
Ah! se não fosse a 'Sãozita'...
Com um suspiro devolves o teu corpo cansado, ao pó dos tempos , embalado pelos ventos suaves da eternidade.
Partir é sempre uma história inacabada.
Os teus medos fecharam-te para o mundo, deixando-nos no papel ingrato de observadores.
É tempo de tomares o lugar de honra nas minhas memórias.
Os passeios de domingo na serra e a chouriça e a broa cortadas com a navalha 'Zé Tintas'.
Aquele 'maceiro' a bordo. Eu aceite no meio dos velhos pescadores.
Os passeios no 'Dona Elvira', enquanto a mãe ficava a preparar aquele frango 'corado', tão rico em sabores e odores.
Pequenos nadas... talvez. Como aquele abraço adiado, que foi empurrado para o nunca.
E quando este tempo de recordação se for na neblina dos dias passados, será a hora de nós, os que ficamos, darmos as mãos, porque pai.
A vida vai de novo 'baralhar-partir-e dar'.
Boa viagem
Jonas